05 novembro 2013

Resenha| Filhos do Jacarandá - Sahar Delijani


  Olá tracinhas,
Novamente o Razão e Resenhas ficou parado alguns dias, novamente tenho que me desculpar com todos vocês e também com as editoras e os blogs parceiros. Dessa vez tive que ceder meu ombro de mãe para um problema que minha "cria" está enfrentado e confesso que fiquei sem rumo aqui em casa.
Mas como tudo passa e o tempo urge vim postar uma resenha para vocês. Vamos a ela?

  Em 1983, uma menina chamada Neda nasce dentro de uma prisão em Teerã, capital do Irã. Sua mãe é uma prisioneira política que só consegue cuidar da filha recém-nascida por alguns meses antes que ela seja levada, à força, para longe de seu convívio. Neda é uma personagem fictícia de Filhos do jacarandá, primeiro romance escrito por Sahar Delijani, mas sua história se mescla com a da própria autora, que passou seus primeiros 45 dias de vida na penitenciária de Evin, na capital iraniana."Filhos do jacarandá" não chega a ser uma biografia, mas é inspirado em experiências reais dos pais e familiares de Delijani depois que o país passou de monarquia a república, com a revolução de 1979 – que derrubou o xá Reza Pahlevi e instituiu o comando do aiatolá Khomeini. Seu tio foi executado e seus pais, contrários a ambos os regimes, foram encarcerados. Para a autora, o romance “é uma tentativa de manter viva a memória de meu tio e de todos aqueles que foram mortos naquele verão sangrento, para além de colocar um pouco de luz nesse momento negro da história iraniana. É também uma narrativa de violência, prisão e morte, que permaneceu inédita por muito tempo”.Publicada em mais de 20 países, a história recebeu elogios de Khaled Hosseini, autor que emocionou o mundo com O caçador de pipas e, mais recentemente, com O silêncio das montanhas: “ambientado no Irã pós-revolução, o emocionante romance de Sahar Delijani é uma poderosa denúncia da tirania, um tributo comovente àqueles que carregam as cicatrizes de tempos sombrios e uma celebração da eterna procura do homem pela liberdade”.Filhos do jacarandá conta a história de três gerações de homens e mulheres inspirados pelo amor e pelo idealismo, que perseguem sonhos de justiça e liberdade. É um tributo às crianças da revolução, segundo a autora. “Muitas pessoas acabaram sendo aprisionadas pelo novo regime, e os filhos do título são os filhos delas – crianças que nasceram no período pós-revolução e foram educadas por seus avós, tios e tias, já que seus pais estavam na cadeia”. É um livro que trata de repressão política, mas que também revela como fortes laços familiares não são desfeitos nem nas piores circunstâncias.


Minha Resenha

O que dizer sobre Filhos do Jacarandá?
Começo por contar que não vamos ter um personagem principal, não vamos nos deparar com um protagonista cheio de dramas e uma história de vida particular.
Esse livro retrata a realidade social e política de um país arrasado pelo fanatismo religioso e pela voz de um governo violento e assassino.
A autora Sahar foi uma vítima desse regime, ela nasceu numa prisão e lá ficou durante seus quarenta dias de vida até ser separa dos braços de sua mãe. Nisso ela baseia a história de Azari, uma das personagens das muitas que dão voz a essa história maravilhosa e chocante.
O livro já choca nas primeiras páginas onde seguimos com Azari sentindo intensas dores de parto na carroceria de uma van. Seus algozes a levam para ter seu bebê num hospital em condições sub-humanas.
Cruel e triste é o momento em que nasce sua filhinha e ela não sabe se poderá ficar com ela ou se vão leva-la dali.
Mas Neda é entregue a ela quando a tiram do hospital mesmo com o corpo debilitado pelo parto e a levam para a prisão outra vez. Lá as parceiras de cela fazem de tudo para a mãe e bebê. Desde rasgarem e costurarem suas parcas roupas para agasalhar Neda, até brigarem entre si para segurarem a menininha nos braços. Porque naquele momento, mesmo num ambiente infestado de injustiças e torturas, um bebê significava esperança para todas elas. Mas até quando permitiriam que Azari ficasse com sua filha? Até quando seriam tão “benevolentes”?
Essa é uma das historias, em seguida temos outras que são tão ou mais brutais que a história de Azari e Neda.
Uma personagem que ganhou minha simpatia instantaneamente foi Leila, não vou entrar em detalhes, mas senti semelhanças entre Leila e minha mãe, então foram momentos intensos de leitura para mim, particularmente chorei muito com o drama de Leia. Leila ama intensamente um rapaz e é correspondida, mas nega todo esse amor, abdica de tudo para cuidar dos sobrinhos, que são entregues aos avôs (pais de Leila), pois seus pais estão presos. Leila não pode amar, ela não pode deixar seus pais já idosos criando três crianças pequenas sem seu apoio.
Amir, Maryam e Sheida, esses três personagens são muito densos.
Amir vai para prisão deixando sua mulher Maryam grávida. Ele tem a regalia de poder receber a visita de sua esposa de vez em quando. Sem data e dias marcados eles podem se vir raramente, mas isso é melhor do que a vida de muitos prisioneiros. Enfim, a filhinha de Amir nasce e ele a conhece num dia chuvoso numa sala fedorenta somente por 10 minutos. Eles a segura nos braços durante dez minutos e nada mais. Depois desse momento Amir resolve fazer para a filha uma pulseira de sementes de tâmaras. Ele quer fazer para a filha algo que seja um legado. Pois não sabe exatamente quando poderá estar junto de sua família novamente.
Anos depois, muitos anos depois Maryam entrega a pulseira para Sheyda, filha dela com Amir, e explica toda a trajetória vivida pelo casal.
Dor, dor e agonia foram o que senti ao ler esse livro. Mas em momento algum eu me arrependi da leitura. Além do mais fiquei aqui remoendo reportagens sobre a guerra do Irã, tudo que aprendi somente na TV sobre Khomeini e toda a política amoral daquela região e de como era desinformada. Tudo bem, temos notícias pasteurizadas e condensadas de guerras e rebeliões e nada nos prepara para os fatos realmente. No meio de toda a ambição e do fanatismo existem pessoas, seres humanos que sofrem oprimidos em sua liberdade, liberdade mental e física.
“Ninguém perguntava de onde vinham os gritos. Ninguém ousava perguntar. Eram uivos de dor, disso sabiam. Porque ninguém queria confundir berros de dor com os de qualquer outro tipo; eram gritos de um corpo sem identidade, abandonado, reduzido a um borrão amorfo, cujo único sinal de vida era a força capaz de abalar o silêncio dos muros da prisão.”

Ver na televisão sobre o sofrimento daquele povo não me preparou para o que senti ao ler esse livro que deu forma real aos acontecimentos daquela época e até mesmo em outros lugares com tantas outras guerras e conflitos. Aprendi muito sobre o que a alma humana pode suportar por amor.
Quando os personagens se encontram percebemos que laços de amizade e de família são inseparáveis e que podemos suportar coisas inimagináveis.
Nas 232 páginas o leitor não vai acreditar que esse é o livro de estreia de Sahar, a escrita é clara e fluida. Em muitas partes vi poesia memorável nas palavras dessa mulher que nasceu no meio de tanto sofrimento. Esse livro é o grito pela justiça, simplesmente porque todos nós precisamos saber, todos precisam saber o que aconteceu. Admiro cada vez mais as mulheres do oriente, mesmo que sejam tratadas como seres inferiores elas são terrivelmente fortes, as mulheres descritas por Sahar são tudo isso e muito mais. Recomendo a leitura com cinco estrelas.

Árvore florida do Jacarandá

"Três em um, como galhos de uma árvore, do pé de Jacarandá em seu pátio. Não se podia dizer onde terminava a árvore e começavam os galhos. Assim eram as três crianças: a árvore dos seus galhos". 


Editora: Globo Livros
ISBN: 9788525054609
Ano: 2013
Páginas: 232
Tradutor: Celina Portocarrero

Globo Livros:
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Twitter: @GloboLivros
Site: Globo Livros






                                                                                                                                               




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8 comentários:

  1. eu adorei quando li esse livro, é uma história sensível, ao meu ver você consegue levemente perceber a dor da autora ao relacionar suas histórias da ficção com os acontecimentos que realmente se sucederam na sua vida. Para um primeiro livro de uma autora, é uma história emocionante e ao mesmo tempo, linda e assustadora.
    Abraços
    Melissa Padilha
    De Coisas por Aí

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  2. Nossa amiga, deu para perceber que a leitura desse livro é bem intensa e ainda mais o quanto ela mexeu com vc.
    Tem livros que conseguem nos deixar uma marca e Filhos do Jacarandá parece ser um deles.
    Fiquei super curiosa para conhecer esta história. Com certeza anotei a dica.
    Bela resenha Vivi, bjokas flor.

    www.lerepensar.com

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  3. Oie amiga
    Adoro histórias intensas, que mexem com nosso emocional. Acabei de sair de uma leitura assim, e quero mais.
    Não conhecia esse livro, mas já vou colocar na listinha de desejos.
    bjos
    www.mybooklit.com

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  4. Oi Vivi, tudo bem? Saudades de você!
    Esse livro parece ser daqueles bem fortes. Não o conhecia, mas já gostei das coisas "polêmicas" que ele aborda.
    Infelizmente agora não é o momento IDEAL para ler um livro assim, mas é um que eu vou gostar. Minha cabeça tá com tantos problemas que to optando pelos mais leves.

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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  5. Oi Vivi!
    Nossa! Que resenha linda. Adorei!
    Eu nunca li o livro, pois ele não chama muito a minha atenção. Mas confesso que agora fiquei curiosa. rs

    BjO
    http://the-sook.blogspot.com.br/

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  6. Que resenha perfeita, Vivi! Como sempre você emociona e instiga o leitor a desejar tal livro e com esse não foi diferente. A temática não me agrada tanto, confesso, mas fiquei curioso com a história da Leila e da Azari e prole.
    Mais uma vez, arrasou na resenha!
    xoxo

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  7. Ótima resenha, Vivi, como sempre.

    Já ouvi falar do livro, mas nunca tinha tido muita vontade de ler, até agora. Parece o tipo de livro forte, que acaba nos fazendo olharmos para nossa própria vida, avaliá-la de alguma forma mais... honesta.

    Enfim, não sei se estou afim de um livro assim no momento, mas irei tentar lembrar dele para quando estiver ^^

    Té mais...
    http://bmelo42.blogspot.com.br/

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  8. Oi Vivi, tudo bom?

    Você como sempre arrasa nessas palavras.
    O Livro parece ser sensível, daqueles que mexem com nosso emocional né? *-* Temos que estar preparados pra leitura. Mas tenho certeza que ele é maravilhoso <3

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