31 agosto 2013

Resenhas | O retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde

  Hoje finalmente trago a resenha de O retrato de Dorian Gray. Não foi uma leitura leve, não foi fácil resenhar e sei que posso não ter feito jus a obra, mas a boa vontade e o carinho com que o li foram grandes e acho que compensará minha falta de jeito. Escrevi o que senti ao ler, acho que isso é importante, então vamos lá.


Essa obra anotada e sem censura foi lançada pelo selo Biblioteca Azul.


Sinopse

  Quando o retrato de Dorian Gray foi publicado pela primeira vez em forma de livro, em 1891, era uma versão substancialmente alterada do romance original de Oscar Wilde. Considerado muito ousado para sua época, já tinha sido editado quando publicado em série na revista literária Lippincott’s, em 1890, e depois ainda foi alterado pelo próprio Wilde, que, em resposta às duras críticas, fez sua própria edição para a publicação em livro. Assim, a versão original, tirada do manuscrito de Wilde, nunca havia vindo a público. Nicholas Frankel, professor de Inglês na Universidade de Virginia, teve acesso ao original datilografado de Wilde, revisitando e restaurando o romance como foi pensado originalmente. The Picture of Dorian Gray: An Annotated, Uncensored Edition foi finalmente publicado pela Harvard University Press e agora sai pela Primeira vez no Brasil, pela Biblioteca Azul Sinopse completa aqui.

Minha resenha:

 Quando recebi o exemplar de “O retrato de Dorian Gray” da Globo Livros fiquei muito feliz e ansiosa para começar a leitura imediatamente, mas como tinha outros livros na frente tive que adiar um pouco a leitura do mesmo. Não me arrependi da espera por um único motivo: - Ler essa edição sem censura foi sensacional, nem sei bem como colocar em palavras. Isso só pra falar no capricho da editora na parte gráfica e nessa capa dura maravilhosa. Mas preciso agora me focar em falar da história.

A história é muito densa e o lado psicológico do leitor, pelo menos o meu, fica abalado entre amar Dorian Gray e odiar suas atitudes e fraquezas.
Dorian era um rapaz atencioso, gracioso e afável, e com um caráter sutil e cativante. Tamanha eram sua simpatia e beleza que acabou fascinando o pintor Basil Hallward. 
Sua adoração pelo jovem foi tamanha que ele resolveu imortalizá-lo em uma de suas pinturas, segundo o próprio pintor o retrato de Dorian seria seu ápice como artista, ele tinha por Dorian um sentimento que sobrepujava qualquer interesse financeiro, era idolatria e amor.  
Basil tecia tantos elogios e falava tanto sobre Dorian que acabou deixando Lorde Henry intrigado sobre o modelo de Basil. Na leitura fica óbvio que tudo o que Basil sente por Dorian era tão profundo e arrebatador que não tinha definição, eu mesma achei bem confusas suas palavras, sua maneira de falar, seus anseios, ele ficou arrebatado, pintava com loucura devotada na presença do lindo Dorian.
Então Dorian é apresentado a Henry, que com sua astúcia logo adquire um interesse pelo rapaz e sua formosura. Contudo a sua natureza destrutiva e hedonista e a capacidade de persuasão acabaram por corromper a natureza crédula e quase pueril de Dorian. 
Dorian passa a ver o lado fútil da vida e deseja ardentemente que a sua beleza física dure eternamente. Enquanto Basil finaliza o quadro, ele coloca todo o ímpeto, o desejo de nunca ficar velho e feio, de nunca perder a beleza etérea e frágil que tanto lhe faz ficar famoso e bem quisto aos olhos da sociedade que agora ele pertence.

Henry, maquiavélico que é, torna-se amigo de Dorian e com os conselhos e suas idéias autoritárias, acaba seduzindo e conduzindo o moço a um caminho sem volta. 
Dorian Gray perde completamente a noção de moral e aquele moço que chega à cidade com índole quase infantil é enterrado numa poça de lama mundana. 
Mas nesse novo e podre mundo que Dorian frequenta as pessoas surgem de onde menos se espera, ele conhece Sibyl Vane, uma atriz de terceira categoria que interpreta algumas personagens famosas em um teatro vagabundo. Ele se apaixona por ela, sua atuação o enfeitiça. Ele se impressiona tanto com a moça que por noites seguidas vai vê-la nas apresentações, sentindo-se o mais apaixonado dos homens. Ele cria coragem e se declara para Sibyl e o seu amor é correspondido, perdido de paixão do que acredita ser o seu primeiro amor, fica noivo da jovem. Mas Dorian é um fraco, ele precisa da aprovação das pessoas, ele precisa que a menina e seus amigos se conheçam e que tudo fique bem, até esse ponto achei normal, mas a situação saiu de controle quando ele leva os amigos para vê-la representar e justo nesta noite, muito nervosa, ela atua bem abaixo de seu talento habitual. Os amigos saem do teatro e ele decepcionado com a noiva a trata de forma cruel, devastadora. Acho que nunca senti tanto nojo de um personagem. Wilde descreve com tanta maestria todo o fervor das palavras de Dorian que arrancou de mim um ódio profundo e a vontade que senti foi de abandonar a leitura. Mas claro, não fiz isso.
A derrota completa de Dorian se dá no momento em que, outra vez, se deixa levar pelos argumentos absurdos de Henry e sem qualquer sentimento de remorso, trata o assunto da morte de Sibyl como se fosse mais uma encenação teatral. Sim, a moça arrasada com tudo e mais alguns fatos que não vou contar se suicida. A partir desse momento, ele que já havia percebido mudanças no retrato pintado por Basil, vê que o quadro começa assumir fisionomia cruel e pestilenta, ou melhor, a cada mudança da personalidade de Dorian, o quadro se deteriorava. Ele está cada vez mais viçoso e pernicioso, participa de orgias sexuais e situações das mais devassas. O tempo parou para ele, não envelhecia e nenhuma ruga manchava seu rosto magnifico, mas o quadro escondido  pelo protagonista quase que exalava o odor pútrido de todas as maldades e loucuras cometidas por Gray.
Para Dorian o importante a partir daquele momento é que mesmo cometendo todos os pecados e indecências inimagináveis, sua aparência continuaria sendo a do rapaz lindo e imaculado, enquanto o quadro assumiria toda a podridão de sua alma. Ele se torna ainda mais cruel após ler um livro enviado por Henry e o mundo passa a ser um parque de diversões (devassidão). Nada importa, já que sua beleza continuará imutável. E somente ele sabia, ele esconde o quadro e protege seu segredo de juventude eterna. Mas até quando seu corpo e sua alma aguentariam tantas mentiras, até quando a libertinagem saciaria nosso Dorian?
Apesar da atenção redobrada que tive ao ler essa obra, que de tão densa se torna parte do leitor eu adorei o livro. Um livro filosófico, que a cada página nos mostra o porque foi tão recriminado na época que foi escrito. A cada frase você percebe a luta do autor em falar de sua homossexualidade, de seus desejos no mínimo excêntricos. Não só isso, seria muito injusto falar que Oscar Wilde escreveu essa obra para simplesmente chocar as pessoas sobre suas escolhas sexuais, não, em minha opinião fica intrínseca a vontade do autor de mostrar ao mundo como o ser humano pode mudar em função da opinião das outras. A mudança gritante da personagem principal, de moço ingênuo para um homem cruel e sem moral nos faz perceber que a alma humana é delicada. Não sei ainda qual seria meu personagem preferido, acho que nenhum. Acho que a leitura foi tão desgastante quanto impressionante. Eu filosofei com Oscar Wilde, pois o livro é filosófico, o belo e o feio, o sexo tratado de maneira como eu nunca tinha visto, os sentimentos de Dorian tão imediatistas, a psicopatia insana de Lorde Henry, tudo choca, mas tudo faz sentido de uma maneira louca. Penso nisso tudo de forma meio embaralhada, e só sei que fez sentido porque imaginei o próprio autor escrevendo todas as suas aflições, colocando no personagem tudo aquilo que estava vivendo. Tudo que a sociedade daquela época determinava e vivenciava, mas seria só naquela época? Deixo essa interrogação. 

Quando mais jovem li uma versão condensada e nada pesada (no sentido sexual) de "O retrato de Dorian Gray", já na época eu gostei muito da história, mas o que dizer dessa edição completa e sem cortes da Biblioteca azul? Eu amei, foi uma leitura que só engrandeceu minha pessoa. Como leitora digo que foi uma lufada amarga e doce ler esse livro. Só quem leu entenderá o que eu disse, e aos que não leram fica essa dica, não esperem mais.

Curiosidade
Apesar de ter alguns títulos publicados, O retrato de Dorian Gray foi mais famoso publicado por Oscar Wilde, que passou dois anos encarcerado, após perder um processo por difamação contra marquês de Queensberry, pai de Lorde Alfred Douglas por quem ele era perdidamente apaixonado. Após ser posto em liberdade exilou-se no continente. Wilde morreu em Paris em 1900 na miséria.


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19 comentários:

  1. Acho a estória de Dorian Grey interesse, toda essa ligação dele com o quadro, a importância da beleza acima de tudo, inclusive do caráter, mas não tenho muita curiosidade de ler o livro.

    *bye*

    http://loucaporromances.blogspot.com.br/

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  2. Vivi minha best friend forever, sua resenha ficou impecável! Acho que será difícil encontrar outra tão sensitiva quanto a sua, sobre a obra de Wilde.
    Eu não li ela por completo, apenas trechos em que tive que analisar na facu e mesmo os trechos, me deixaram bastante mexida, imagina só ler esta edição completa e sem cortes?
    São tantos sentimentos que Oscar passa com sua obra, algo forte, intenso e que traga o leitor de maneira irreversível.
    Acho que foi isso que ocorreu com vc amiga, vc foi tragada pela obra e conseguia sentir na pele, sob as palavras do próprio Oscar, como ele se sentia quando as escreveu, e sentir isso numa leitura é algo que não tem preço.
    Eu realmente fiquei curiosíssima para ler a obra, e confesso que nem na facu, quando fiquei aulas e aulas analisando trechos e mais trechos desse livro magnânimo, não me atiçou tanto a curiosidade quanto seu belo texto.
    Parabéns amiga! Bjus

    www.lerepensar.com

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  3. Oi Vivi!

    Que resenha!!! Confesso que já ouvi muito falar sobre Oscar Wilde e Dorian Gray, mas na verdade não conhecia a história. E gostei muito do que li da sua resenha, uma história e tanto. Não sei se existe, mas acredito que também daria um ótimo filme! Fiquei super curiosa e interessada, um livro que eu nem pensava em ler.

    Beijos,

    Celle
    www.bestherapy.net

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  4. Uau, não conhecia esse livro mas pela sua resenha fiquei muito curiosa. Não é o tipo de livro que estou acostumada a ler, mas acho que ele merece uma chance =)

    Beijos, boa semana!
    www.procurei-em-sonhos.com

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  5. É um verdadeiro clássico! Já está na minha lista faz tempo.
    Eai Vivi! Saudadonas de vc. Finalmente estou de férias, e agora volto a ler mais frequentemente o RR, e não deixarei de comentar. Que bom que vc gostou dessa história, eu não sabia ainda muito sobre ela, agora já tenho bem mais noções de como ela é.
    Grande abraço,

    Maurício Dias

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  6. Oi Vivi, eu conheço essa história porque assiste a adaptação. Achei o filme todo muito denso, eu fiquei um pouco de cara com o Dorian e no que ele se tornou e imagino como deve ser ainda mais intenso com o livro. Sua resenha me fez lembrar algumas cenas, e a cena do final onde o quadro estava completamente acabado e o Dorian se encarava. Não sei se leria o livro, mas a história é realmente fascinante e repugnante ao mesmo tempo.
    Abraços,
    Raquel.

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  7. Volte e meia leio alguma frase legal do autor, então tenho curiosidade de lê-lo. Esse livro realmente parece intrigante, contudo eu tenho um certo adiamento para ele, sabe?! Não sei porque, mas sempre o acabo deixando para depois, mesmo quando lembro. Mas tenho vontade de ler. Acho que é a ideia do peso que ele tem (especialmente no sentido filosófico, como vc mesma disse) que acaba fazendo-o ficar mais abaixo na listinha.

    Té mais...
    http://bmelo42.blogspot.com.br/

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  8. Nossa Vivi, já me senti lendo o livro... sempre tive uma curiosidade genuína em conhecer sobre esse livro. E saber que o comportamento de Dorian reflete no quadro, fiquei estupefata. Certos livros que lemos precisamo levar em consideração o contexto histórico em que ele foi criado. Sem dúvidas esse livro permite uma pesquisa legal. Tanto da vida do autor, como da época. Muito boa sua resenha.

    Bye da Pah
    Livros Estrelas

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  9. Esse livro é um clássico!
    Li na faculdade e amei!
    Amei a resenha
    Beijinhos
    Rizia - Livroterapias

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  10. Oi Vivi, não sabia que este exemplar seria sem censura, deve ser um livro e tanto..
    não é meu estilo, mais leria em uma oportunidade, porque eu vi o filme e gostei bastante..
    Gostaria de saber a versão do livro..
    Adorei a dica!!

    beijos Mila
    http://dailyofbooks.blogspot.com.br/

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  11. Oi Vivi,
    Sempre tive curiosidade de ler este livro, principalmente depois de quê minha professora me intimou a lê-lo. Gosto bastante de livros clássicos. Pretendo ler daqui alguns anos, quando me considerar madura o suficiente para absorver a estória da forma como ela merece.
    Resenha Impecável.
    Um Beijo.
    Yasmin
    deitadosnagrama.blogspot.com.br

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  12. Oi Vivi,

    Adorei a resenha, conheço mto pouco de Oscar Wilde, mas gostei da história! É sempre bom ler um clássico! :)

    Beijos


    http://preferiaestarlendo.blogspot.com.br/

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  13. Fiquei besta com a curiosidade no fim do post e mais besta com a tamanha história e graciosidade que o livro deve passar.
    Sério, eu preciso desse livro!! :o
    Adorei a resenha Vivi e obrigado por acrescentar mais um livro nessa minha longa lista de compras.
    kk
    Beijo

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  14. Não conhecia o livro, mas ele parece fantástico! Mas não se eu leria, não faz muito ~meu estilo~ =/

    Beijos,
    www.procurei-em-sonhos.com

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  15. Oi Vivi, adorei a sua resenha, parabéns!! Simplesmente você conseguiu fazer o leitor entrar na atmosfera do livro e experimentar um pouco dessa profunda narrativa!! Sempre tive vontade de ler essa obra e até estou com uma edição da Martin Claret na estante só esperando a oportunidade ideal!! hehe Lendo sua resenha fiquei ainda mais motivada a conhecer a estória, como temos gostos literários parecido, já sei que as chances de realmente gostar são grandes!!

    Te espero lá no Prólogo da Leitura, até mais!!

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  16. Oi Vivi
    Esse livro é muito bom! Já li e vi o filme (o antigo e o mais recente) e gostei bastante!
    A sua resenha ficou muito boa, parabéns!!
    Beijinhos
    Renata
    Escuta Essa

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  17. Parabéns pela resenha, Vi! O livro é bastante interessante, como você tão lindamente soube expor na resenha.
    Ainda não o li, mas está em minha lista!

    Ainda bem que não vi os filmes, perco total o interesse de ler quando isso acontece.

    Mil beijos,

    Oscar!

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  18. Bela resenha, parabéns. Para mim o personagem mais marcante foi certamente o Lord Harry, ele é de uma franqueza que assusta, pois a sociedade nos faz viver uma pose falsa. Duas passagens do livro resumem bem isso, para variar são colocações do próprio Harry
    1ª " Ser natural é simplesmente uma pose"
    2ª "O valor de uma ideia nada tem haver com a sinceridade do indivíduo que a exprime. Na realidade , a probabilidade é que quanto menos sincero for o indivíduo, mais puramente intelectual deve ser a ideia, portanto não a influenciam os interesses, nem os desejos, nem os preconceitos desse indivíduo"

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  19. Honestamente, eu nunca li o romance, eu aprendi a história de adaptações para o cinema que eu vi, ojajlá breve ser capaz de comprar o livro, este post interessante sobre o outro lado. Fez-me lembrar da marca nova série chamada Penny Dreadful, uma história que lida com a origem de personagens literários clássicos como Dorian Gray e Dr. Frankenstein, a verdade é muito bom.

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