29 julho 2014

Resenha | Escravas de Coragem - Kathleen Grissom

Olá Tracinhas!
Hoje é terça-feira, bem início de semana e venho postar para você a resenha de um 
romance/drama bem lindo.
Escravas de Coragem foi um livro que me tocou profundamente. 
Quem o ler não ficará imune as palavras da autora. 
E sendo assim segue minha resenha sobre a história.


  Belle já tinha problemas suficientes preparando a comida da casa-grande e cuidando para se manter longe dos olhos de D. Martha e de seu filho, Marshall. Eles não sabem que, na verdade, ela é filha ilegítima do capitão James Pyke, por isso imaginam o pior em relação à preferência do capitão pela escrava mestiça. Ser responsável por uma menina meio doente que acaba de chegar à fazenda é um tormento do qual Belle não precisava. A garota parece incapaz de reter comida no estômago, mal fala, não se lembra de nada e, às vezes, é até meio assustadora, com sua cara de avoada. Além de tudo é branca e tem cabelos cor de fogo. Mas Belle sabe que, entre as pessoas que a acolheram, a cor da pele não significa nada e por isso acaba recebendo Lavinia de braços abertos. Esse é apenas o início da saga de uma família formada por laços que vão muito além do sangue. Uma história de coragem, esperança, força e amor à vida.

Autora: Kathleen Grissom| Editora: Arqueiro| Edição: 1| Ano: 2014| Páginas: 331 

O livro "Escravas de Coragem" foi cedido como cortesia pela editora Arqueiro


Minha resenha

Quando li a sinopse de Escravas de Coragem intuitivamente sabia que iria gostar da trama. Sabe quando você termina um livro, dá um sorriso e pensa: 
- Caramba, sabia que iria amar esse livro, a história iria me fisgar.
Foi bem isso que aconteceu. Eu voei com esse livro, não esperava ter as sensações que tive num livro que fala sobre escravidão, pois tenho sentimentos intensos sobre o assunto, e eles não são amenos. Não sou negra, mas já senti na pele o preconceito por ter me casado com um homem de pele negra. No entanto a resenha não se trata disso, então não vou me alongar.
Nem em sonhos quero comparar o racismo de hoje com o sofrimento vivido pelos escravos do passado, em qualquer parte do mundo os negros sofreram e tiveram suas histórias e tragédias.
Essa é uma história de movimento rápido, os acontecimentos são frenéticos mesmo que os acontecimentos se passem ao longo de vários anos. A primeira parte do livro é rica em detalhes, tudo é bem descrito e nos sentimos inseridos no texto, porém o crescimento dos personagens não é tão perceptível, de um momento para o outro a personagem principal se torna adulta e eu me senti privada de algo mais, aquele “algo” que fizesse me conectar melhor com ela. 
A história gira em torno de Lavinia, uma menina de sete anos de idade. Lavinia é uma imigrante irlandesa cujos pais morreram durante a viagem do navio daquele país para a América. Quando o navio atraca na Virgínia, seu irmão mais velho é vendido à outra família, e a menina é levada para uma fazenda com o capitão.
De muitas maneiras Lavinia é de sorte. Ela trabalha duro como empregada na casa grande, mas nunca é maltratada fisicamente. Ela é adotada pela família de escravos que trabalham na casa e na cozinha – Mama Mar, Papa George, Dory, Bem e os gêmeos Beattie e Fanny, que são da idade de Lavinia. 
Então temos essa situação, a menina cresce como uma empregada ou serva, mas tem ignorância sobre a diferença entre as raças e a escravidão em si.
Os escravos da cozinha são sua família, cuidam dela e se preocupam com ela.
Ao mesmo tempo a dura realidade deles é que nos ensina sobre o que era a escravidão naqueles tempos. O capitão viaja demais, está sempre ausente e todos ficam sob a dependência da esposa dele, a Senhora Martha, uma viciada em láudano cheia de ódios pelas escravas e também sob o julgo do racista e violento superintendente Rankin. Os escravos sabem que não podem deixar Lavinia à vista de Martha ou Rankin, eles não vão dar a garota ou a qualquer outro um tratamento humano, ela poderia ser espancada, torturada, estuprada ou vendida a qualquer momento. E o capitão não tem um lado do bem ou do mal, ele pode tanto ser bom numa hora, quanto desumano na outra. Num conflito entre escravos e brancos certamente ele estará do lado dos brancos.
Isso faz com que o relacionamento entre os escravos seja precário e precioso. Muitas crianças morrem e escravos podem ser vendidos ou mantidos separados pela vontade de seus proprietários. Mama Mae ensina seus filhos a congraçar-se com o capitão e sua esposa apenas para sobreviverem e ficarem juntos.
A história é contada pela perspectiva de Lavinia, mas Grissom diz um pouco da história pelo ponto de vista de Belle.
Belle é uma jovem escrava muito bonita que trabalha na cozinha da casa. É para ela que o capitão entrega Lavinia quando essa chega com sete anos e muito maltratada. Desidratada e faminta a menina não fala. Mas Belle e Mamam Mae a ajudam muito. Belle então se torna mãe de Lavinia. Belle ilustra a vulnerabilidade e impotência da vida de uma escrava.
Belle ama Bem, um dos escravos, mas não pode ficar com ele. Ela é, na verdade, a filha do capitão, e ele permitirá que ela fique com ninguém. Como escrava ela está sujeita a estupro, gravidez indesejada e não tem qualquer influência em seus próprios relacionamentos ou sentimentos. Na verdade, Ben pode ser morto apenas por estar perto dela. Os escravos vivem a beira da violência e da morte o tempo todo.
O uso de dois narradores é importante porque Lavinia é mantida no escuro sobre várias coisas.
Ser branco em uma família de negros faz com que ela se sinta sozinha e separada, ela não tem amigos brancos, e não gosta de ser tratada diferente de “sua família” negra.
Você percebe sua ingenuidade quanto ao seu desejo de ser negra, mas isso é compreensível, não tem como ela se sentir diferente, não tem como ela não se sentir dividida.
Na medida em que ela cresce, branca e linda você também perceberá que ela será afastada de sua família negra, da família que ama e isso dá muita dor no coração do leitor, eu fui me sentindo pequenininha.
Grissom fez um excelente trabalho criando relações entre os membros da família. Em minha opinião os diálogos foram o ponto forte, especialmente o dialeto usado pelos escravos. Que a tradução da editora Arqueiro conseguiu captar e passar para o português de forma tão contundente.
Dialeto é sempre um indicador claro do estado e da educação. Gostei principalmente da ênfase que a autora deu em nomes para diferenciar os papéis dos personagens e como eles são vistos pelos outros. Por exemplo: Lavinia é “Abinia” para os adultos escravos, e “Binny” para as crianças. Ela chama Mae de “Mama” e George de “Papa”, mas quando retornam para a plantação com os adultos estão proibidos de chama-los assim.
Na resenha é meio complexo explicar, mas durante a leitura isso é obvio ao entendimento, e bem interessante.
A autora também cuida de descrever a vida na casa dos escravos e a família branca na plantação. A vida dos escravos gira em torno dos seus papéis na cozinha e na casa grande. Há poucos detalhes políticos, mas ela explica que o plantio é no sul da Virgínia, longe de qualquer outra cidade.
Senti falta de mais detalhes históricos, eu adoraria ter aprendido um pouco mais sobre imigrantes irlandeses, o que isso influía no mundo dos escravos negros.
A capacidade de Lavinia de se misturar com classes superiores me deixou com a pulga atrás da orelha, mas não cheguei a uma definição certa sobre isso.
Como menina Lavinia é bondosa, amorosa e sensível, mas como mulher ela me decepcionou demais. Não decidi se isso foi intenção da autora, ou se a decepção foi mesmo pessoal, algo que mexeu comigo especificamente. Como adulta ela recebe educação, amor e status, somente por ser branca. Mas ao invés ela fazer algo positivo com seus privilégios, ainda mais por ter passado tudo que passou, ela se torna egoísta e fraca. Como adulta ela deveria compreender o mundo a sua volta muito melhor. Eu entendi que os escravos tenham escondido dela a pior parte de suas vidas, os aspectos terríveis e monstruosos, mas ainda assim ela viveu com eles e deveria questionar mais as coisas. Ao contrário, ela faz suposições tolas e toma péssimas decisões. 
Sinto ter falado demais sobre a história e não posso contar mais nada, a família negra de Lavinia é o que ela tem de melhor, inclusive acho que sem eles ela não conquistaria nada da minha simpatia por ela. É uma personagem necessária, mas que me deixou triste.
Ao final tive a sensação que a autora correu para amarrar as pontas soltas, queria mais narrativa para não sentir que o final foi forçado.
Bom, para um primeiro romance esse tem as suas falhas, mas como eu disse no inicio da resenha eu não me arrependi da leitura, minhas expectativas fora atendidas.
O livro fala de tempos difíceis e violentos, tudo tinha um propósito e a escravidão não foi obra de ficção. Ler sobre o assunto, mesmo que num romance nos ensina muito, mesmo que eu tenha achado Lavinia fraca, isso demonstra o que a autora quis nos propor, a mulher era nada naquela época, o que dirá das mulheres escravas e negras.








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10 comentários:

  1. Oi Viviane... Desde quando estavam divulgando este livro como lançamento da Arqueiro, ele me chamou muita atenção pois tem uma linda história e é um gênero que eu gosto muito de ler romance/drama... Espero um dia ter a oportunidade de lê-lo.
    Abraço, www.likelivros.blogspot.com

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  2. Oi Vivi!
    Adoro histórias nesse estilo e fiquei com muita vontade de ler esse livro!
    Será que vou chorar com o final?

    Beijinhos
    Rizia - Livroterapias

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  3. Oi Vivi
    Essa foi primeira resenha que li sobre esse livro e achei interessante, já tinha visto a capa do livro e lido a sinopse rapidamente, mas vou colocar ele na minha lista de desejados.
    Beijinhos
    Renata
    Escuta Essa

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  4. Ainda não conhecia esse livro, parece ser muuuito interessante
    Adorei a resenha.
    Beijos
    http://cookierobsten.blogspot.com.br/

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  5. Olá, Vivi
    Tudo bom?
    Ainda não conhecia o livro, mas adoro esse gênero, parece ser um livro bastante legal. Amei a resenha!!
    Beijos*-*
    Território das Garotas

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  6. oie amiga
    uau, suas resenhas me deixam sempre boquiaberta pela sua capacidade de transmitir seus sentimentos em forma de palavras. Preciso aprender a resenhar assim rs
    Eu já imaginava que esse livro era bem tocante, e no momento estou curtindo bastante leituras assim. Na próxima ida à livraria, com certeza não vou deixar ele escapar da minha sacola de compras.
    bjos
    www.mybooklit.com

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  7. Olá *-*
    Ainda não tinha lido nenhuma resenha sobre esse livro e gostei de conhecer um pouco melhor sua trama, mas sinceramente, não sei se leria ele.

    *bye*
    http://loucaporromances.blogspot.com.br/

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  8. Olá Vivi,
    Uma palavra para sua resenha? Uauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu! Sério, todo mundo que ler esta resenha, vai desejar ler este livro.
    Quando vi este livro nos lançamentos da Arqueiro, fiquei meio receoso, até porque um dos comentários a cerca dele é para esquecermos de "E o vento levou", que apesar de nunca ter lido, se tornou um clássico. Ou seja, a divulgação dele veio com muita responsabilidade. Mas, gostei de ler o que você escreveu e fiquei super ansioso para a leitura dele. Beijos!

    Lucas - Carpe Liber
    http://livrosecontos.blogspot.com.br/

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  9. Oi Vivi,
    Primeira vez que vejo contar tanto da história...shaushua...mas como já li não me importo. Eu gostei muito desse livro, na minha concepção foi um dos melhores do ano. Achei triste, mas muito bem escrito, senti a dor e o medo deles. E achei o final até bom para tudo que ouve, adorei a resenha....bjus elis...http://amagiareal.blogspot.com.br/

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  10. Oi! Eu também fiz a resenha dele e sou completamente apaixonada por esta obra. Me pegou de um jeito que não consigo explicar. Foi envolvente que não conseguia parar de ler. Dói saber como era difícil toda a situação, mas foi uma trama brilhante.

    Beijos

    Greice Negrini

    Blogando Livros
    www.amigasemulheres.com

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