Resenha| Adultério - Paulo Coelho

  

Olá tracinhas!

Sou fan do escritor Paulo Coelho desde que tinha meus dezesseis anos e lia Diário de um Mago como se eu mesma fosse uma mística/bruxa e andarilha esotérica...na verdade sempre fui um pouco de tudo isso. rsrs

Mas o fato é que o autor sempre teve o dom de me ensinar coisas que eu trago no coração  e vou levar por mais uma vida ou duas.

Li Adultério e  preciso dizer que a história mexeu comigo e a resenha está bem pessoal. Espero que compreendam e gostem. De um jeito ou de outro me digam o que acharam.

Sinopse no Skoob 

Autor: Paulo Coelho| Editora: Sextante| Ano: 2014| Páginas: 240

Minha resenha

Adultério é um livro que nos instiga a refletir sobre o momento em que o romance, a paixão e o amor nos parece envolto numa neblina espessa e na maioria das vezes inexplicável.

O tema infidelidade jogado assim de chofre pode chocar as mentes mais tradicionais, até que ponto o traído é quem sofre mais? Aonde o infiel quer chegar já que tem o amor do parceiro (a)?

Olha só leitor, eu sou da premissa de que para tudo tem explicação e que onde há fumaça há fogo. Ninguém está livre desde que tenha um coração batendo no peito e não seja um psicopata desprovido de emoção. Aliás, até os psicopatas tem emoções, erradas e truncadas, mas as têm. Mas a questão não é essa, não sou psiquiatra, sou mãe, esposa e mulher e sou leitora, adoro descobrir um mundo de sentimentos nos personagens que leio, amo quando a ficção é tão real que eu acabo me envolvendo e me vendo ali, creio que todo leitor pensa assim também.

A Linda, nossa protagonista, é uma mulher que passou dos trinta anos e mora em Genebra (Suíça), ela tem aquela vida que todas nós em um momento ou outro sonhamos. Marido rico, muito rico, bonito e compreensivo. Os dois têm suas carreiras de sucesso e dois filhos lindos com acesso a ótimas escolas e tudo o que o dinheiro pode comprar.

Linda chora sozinha no banheiro, ela se sente culpada por querer algo que não sabe bem o que é, mas no momento, naquele momento só dela algo não vai bem e Linda não sabe o que é, se sente egoísta. Parece descabido que uma mulher como Linda possa reclamar tendo tudo ao seu alcance.

Mas, e sempre prestem atenção ao “mas”, ele é fundamental para começarmos a dar importância às crises. A rotina e o marasmo mesmo que envoltos numa capa ornamentada em ouro (dinheiro, status social, sucesso no trabalho) é como um câncer corroendo lentamente nossos sonhos mais simples que não foram explorados, comendo viva nossa vontade pessoal de realizar algo que ficou pra trás. Mesmo que não seja algo do passado, tudo bem, ele vai te corroer simplesmente porque o ser humano precisa da adrenalina do “novo”, da caça, da busca por aventuras, mesmo que a aventura seja colocar um vestido justo que seu marido não acha mais tão elegante em você. Simples assim, minar vontades, mesmo que a mais modesta nunca fez bem a ninguém e tudo acaba virando uma bola de neve no “frigir dos ovos”.

Quando nos damos conta, quando percebemos que estamos chorando sem motivo durante o banho é como se fossemos “um búfalo numa loja de porcelana”.

Desculpe por filosofar tanto, culpe o Paulo Coelho, ele tem esse poder sobre mim  ;)

Onde encontrar o sabor e o valor da paixão e do amor para seguir adiante sem destruir quem amamos? Onde foi parar aquilo tudo, antes estava ali, explícito e palpável, ele era tudo e eu era o tudo dele. Linda me passou isso, ela queria mais, mas até então o que tinha era perfeito e o que tinha escolhido.

Agora vou pedir que voltem na sinopse e leiam:

"- Mas isso não é o mais impostante?" (casamento, estabilidade, filhos)
"Para muitas pessoas, sim. Mas para mim não é o suficiente."

Confesso que nessa frase eu já compreendi o cerne da questão. É difícil ter discernimento quando sentimentos e vontades estão em jogo e a pessoa não entende o que acontece consigo mesma e a culpa a consome. É doloroso para quem está ali na berlinda saber que pode estar sacrificando os sentimentos de quem ama.

Desde pequenos somos ensinados a ver que a infidelidade é coisa de gente safada e sem coração. Bom, que me desculpem todos, mas a coisa toda não é bem assim. Claro, temos infiéis patológicos, esses precisam de ajuda, mas não vou me alongar, voltemos ao livro.

Linda se sente morna, essa é a palavra exata que queria usar para definir melhor a protagonista.

Mesmo com todos os bens e mesmo com o amor do marido ela se sente morna e insossa e é a impressão que temos da história, mas é a realidade da trama. O marasmo que por muitas vezes me deixou irritada com Linda é a forma perfeita de entendermos a que ponto as coisas chegaram até que ela percebesse que não estava satisfeita.

Os momentos de choro escondido e sua falta de libido para fazer amor com seu parceiro e pai de seus filhos, tudo isso era um sinal de que as coisas precisavam mudar. Para ele, o marido, as coisas estavam onde tinham que estar e tudo bem. Ser parceiro não quer dizer que o cônjuge fez osmose com você, ele tem sua própria personalidade, caráter, aura, ou seja, lá quantos adjetivos eu possa encontrar pra dizer que: Ninguém é dono de ninguém e que ninguém está dentro de nós de maneira a sentir as coisas da mesma forma. (Um detalhe, eu acredito sim em almas gêmeas, mas almas gêmeas não é sinônimo de que o casal é dono um do outro)

Uma crise precisaria acontecer. Ninguém deve viver do “suficiente” para sempre.

Um coração com batimentos cadenciados é necessário, mas a taquicardia e os batimentos fortes são o sal da vida, nos ajudam a seguir em frente com alegria.

Precisamos de calmaria, mas desde que essa seja surpreendida por faíscas e brasas vez ou outra.

Enfim... Ao reencontrar um ex-namorado Linda sente a faísca do novo, do proibido e se joga em busca de preencher aquele vazio, quer aquecer o lado morno que tanto a incomodava.

A ânsia e o desejo carnal pelo ex-namorado no meu entender foi natural, embora obsessivo, mas é do ser querer o toque além da satisfação psicológica. Não acho justo pensar que ela perdeu o rumo ao se entregar a infidelidade, mas daí entra minha opinião muito pessoal e uma experiência muito parecida pelo qual passei há alguns anos atrás. Perder o rumo é bem o que minha avó falaria, e convenhamos, estamos aqui pra evoluir e não para pensar feito nossas vovós, pelo menos é o que acho.

Acredito intensamente que devemos consertar o que temos e não jogar fora e buscar algo novo, mas no meio de tudo isso temos uma infinidade de acontecimentos que não podemos deixar passar, precisamos viver, amar e viver. 

Posso dizer mais uma coisa sobre esse livro, Paulo Coelho mais uma vez me conquistou e tenho certeza que fará isso com você também leitor, se der chance.

Linda desafiou sua relação supostamente estável e mesmo correndo o risco de não conseguir juntar tudo no fim ela escolheu se conhecer.

Conhecendo a si mesma ela passou a acreditar na fragilidade da convivência e aprendeu muito. Ela não subestimou suas inseguranças, ela procurou ajuda e não se negou. Se vocês lerem o livro vão descobrir muito mais. Adultério é um livro que com certeza vou reler.

Peço perdão por ter escrito uma resenha onde minha opinião e sentimentos falaram mais alto do que geralmente é recomendável. Não pude me conter. Qualquer reclamação ou dúvidas quanto a minha opinião sobre casamento e infidelidade peço que me procurem para conversarmos. Não sou psicoterapeuta, escrevi o que senti, como leitora que sou. Beijos e obrigada.